01/07/2010

Sentimento Nacional



Por puro acaso duas pessoas conversam. É manhã de uma quarta-feira, de um dia nublado, enquanto o trem esforçava-se em fazer seu percurso entre as estações de Campo Grande e Santíssimo.
A mulher, uma senhora de cabelos acentuadamente grisalhos, puxa assunto com um homem à sua frente. Fala sobre a copa do mundo expressava suas impressões sobre o jogo e em certo momento faz a pergunta letal.
- O Senhor torce pelo Brasil?
- Eu tô me lixando pro Brasil! Resmungou o homem de maneira vivaz, sem se preocupar se chamava a atenção dos demais passageiros para si.
A partir dessa insinuação os dois estabelecem um papo animoso, entretendo a platéia que se formava.
- O Brasil me deve. Até hoje não me pagou!
- Sabe minha senhora, sofri um acidente de trabalho. Eu era eletricista e tomei uma descarga. Não morri por um milagre! Fiquei quatro meses em coma. Sou todo costurado, tenho placa em tudo que é canto.
Sorrisos nasciam diante da expressão cômica com que aquele homem a si se referia. “Destilava” as injúrias das quais se julgava vítima. Esse homem – segundo suas palavras, tinha 51 anos – não parou por ai.
- Agora minha senhora, tô correndo atrás da imprensa. O INSS vai ter que pagar o que me deve de um jeito ou de outro... Tomou fôlego.
- A senhora acha que vou gastar meu dinheiro comprando tinta prá pintar rua? Mal ta dando prá comer. E tem mais, tenho vergonha de ser brasileiro...
As incessantes palavras levavam a senhora a pensar: Quantos brasileiros vivem a mesma ira? Quantos engolem a seco um mesmo incômodo?
Nas cenas editadas sempre há torcedores vestindo a camisa oficial da seleção, beijando o escudo a cada gol marcado. Organizam festas, como se tudo no país fosse motivo de alegria.
Percebe que não há espaço prá falar do que é feio, do que é indigno. E que sentimento produz a afirmativa de um governante, quando diz que o Brasil é um país de todos? – o prejudicado continua em segundo plano; seu clamor é plataforma eleitoral para o próximo ano.
O folclórico homem não pensava muito no que dizia. Mas de certo dava voz ao sentimento de muitos outros patrícios, que não assopram vuvuzelas e não habitam os mesmos estádios.
Em passos pausados, o trem chega a Central de um mesmo Brasil...

Rio de Janeiro, 23 de Junho de 2010.

Um comentário:

  1. Gostei das mensagens dos seu blog... já estou seguindo..

    abraço

    na fé,

    Diego Oliveira - Uma visão da Verdade

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